domingo, dezembro 27, 2009

A economia e as mulheres

Pensando na situação actual, depois de ler o “Crash 1929” de John Kenneth Galbraith, não podemos deixar de pensar que a história se repete, e exactamente da mesma forma. Primeiro, a crise de 29 começa como uma bolha imobiliária na Florida. A crise actual começa com a bolha imobiliária do “subprime”. Segundo, todas as crises, a de 29 e a de hoje, desenvolvem-se com base numa euforia completamente irracional, com níveis de capitalização bolsista sem qualquer adesão às perspectivas de evolução das empresas, da sua rentabilidade e dos valores dos seus activos. Essa euforia não é controlada pelos organismos de regulação, sobretudo no que respeita às operações da chamada banca de investimento. Quando a irracionalidade está ao rubro inventam-se, ainda, as coisas mais impensáveis, cujo processo se designa por alavancagem.

O processo é simples e completamente marado. Compra-se um determinado conjunto de acções e obrigações. Depois, transforma-se esse conjunto num fundo e titulariza-se esse fundo. No momento seguinte, transacciona-se fora ou dentro da bolsa os títulos emitidos. Esses títulos, na euforia, capitalizam também. Com base nesses títulos podem-se construir novos fundos, e o processo recomeça indefinidamente. Na prática, estamos quase a falar em emissão de moeda. Tudo isto, é sustentado através de empréstimos aos especuladores que dão como garantias os próprios títulos. Quando a coisa desaba, este são os títulos que desaparecem e se transformam em puro e simples papel. Os títulos do “subprime” seguiram este processo de alavancagem.

Parafraseando Victor Hugo, na economia, as asneiras são o contrário das mulheres; as mais velhas são as mais adoradas.

No fim desta leitura, ficam duas conclusões inquietantes:

• Ainda não se compreende muito bem o processo de contaminação da crise do sistema financeira à economia real. A grande depressão começou por ser uma crise financeira e prolongou-se mais do que uma década sem completa justificação;
• A recuperação depois de uma crise deste tipo não é em V mas em W (eu diria, numa fase inicial, em múltiplos W, tipo montanha russa mas em que quando se desce se desce mais do que quando se sobe). Por isso, mete-me confusão quando dizem que a crise actual já passou.

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