sábado, novembro 11, 2006

Sócrates, o défice e o estado social

Ouvi o discurso de Sócrates no Congresso. Lá o ouvi, como é da praxe de qualquer primeiro-ministro, a desfiar burocraticamente as realizações do governo. No meio daquele arrazoado, acabou por dizer uma coisa que me pareceu interessante. Para ele, e para a esquerda, a consolidação das finanças públicas é fundamental para a manutenção do estado social. Supostamente, para a direita, o desmantelamento do estado social é a única forma de consolidação das finanças públicas. A esquerda vê a redução do défice como instrumento, a direita como objectivo.
Colocada a questão nestes termos, parece que temos um novo paradigma ideológico. O problema é que a prática é capaz de se encarregar de desfazer esta diferença.
Se, hoje, corto um bocadinho aqui e outro acolá na despesa pública e amanhã, que remédio, tenho que voltar a fazer o mesmo, um dia descubro que à custa de tanto cortar já não tenho estado social nenhum. Pouco a pouco acabamos por chegar ao mesmo.
Neste ponto, o pradigma parece ser outro: a direita acaba com o estado social de repente, a esquerda um pouco mais devagarinho.
Parece que andamos em círculo para no fundo chegarmos à conclusão que não há espaço para a política.
Puro engano. Falta uma variável neste raciocínio: o crescimento económico. Foi através dele, aliás, que o Clinton resolveu o problema do défice nos EUA. É na escolha dos factores e das políticas de crescimento económico e na distribuição dos benefícios desse crescimento que está a diferença, para mim, entre a esquerda e a direita. Procurarei, mais tarde voltar a este tema.

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